terça-feira, 2 de julho de 2013

Guia do Turista Urbano

O dia a dia numa cidade nos põe cegos para tantos detalhes interessantes da vida urbana. Para quem vive num lugar, tudo ao redor se torna banal e sem tempero, uma espécie de arroz com feijão sem acompanhamento. Para se perceber estes detalhes urbanos ou se faz um curso de antropologia ou se desenvolve uma técnica de alheamento para que a vivência urbana se torne novidade e proporcione insights e prazer significativos. Este alheamento permite que o olhar veja como novo tudo aquilo que é considerado rotineiro. Algo muito parecido com o olhar do estrangeiro em viagem. Para ele o arroz com feijão vai ser o suprassumo da experiência gastronômica. O olhar do turista estrangeiro se adquire quando a pessoa se permite sair da zona de conforto do que é conhecido e se aventurar para lugares que nunca visitou.
O que proponho aqui é a experiência do turista urbano: andar pela cidade captando toda a dinânica do lugar, os tipos, os gostos, as referências e é claro buscando também cultura e divertimento se estes forem possíveis. Pode ser entendido como "vadiar" ou "flanar" só que sem a despreocupação total que estas atividades trazem. Ser turista urbano precisa um pouco de método e principalmente de curiosidade. Se você não é curioso não se arrisque. Não vai fazer sentido algum.
Primeiro encontre tempo e disposição porque estes serão imprescindíveis. Para ser turista urbano a pessoa tem que voltar para a condição mínima de locomoção e ser pedestre, e então, dentro do seu ritmo, perceber o mundo ao redor. Depois deve-se escolher algum lugar que não conheça para ir. Não precisa ser longe. Uma parte do bairro onde você mora e que você não conhece também serve. A intenção é ficar desorientado, perder-se um pouco para sair do modo automático que se costuma ter quando se anda em um lugar conhecido. Nada impede que você leve um mapa para se guiar um pouco mas não se esfalfe muito nisso. Poucas ou nenhuma referência são as condições ideais. E não se preocupe com a volta: se você é um ser urbano nato vai conseguir voltar para casa quando precisar.
O resto é com você. Abra sua mente, relaxe, deixe as preocupações de lado, caminhe, investigue e perceba... A experiência do turista urbano é sempre única e depende muito da contingência. Vai ter dias incríveis e outros totalmente inúteis. Isso porque você como turista urbano conta com o inusitado e o circunstancial e nem sempre eles se manifestam.
Sendo assim cabe aqui algumas dicas:
- Muita, muita disposição para andar;
- Andar no ritmo lento para poder perceber o mundo que o cerca;
- Street wear total. Roupa confortavel e tênis. Em suma, a roupa o mais comum possível para que você possa se perder na multidão, clamufar-se sem identificação de classe;
- Dispense gps e congêneres. Eles dispersam sua atenção e não permitem que você se "perca";
- Dispense também o falatório em redes sociais via SMS ou ao celular. Outra fonte de dispersão;
- Esteja no lugar sinceramente e com vontade;
- Encontre um dia com disposição para andar. Se você está cansado desista. O cansaço pode atrapalhar a sua percepção;
- Não abra mão da sua segurança. Não entre em becos e ruas estranhas ou mal iluminadas. É para ser uma boa experiência, ok?
- São permitidas referências de guias, googlee sites sobre os locais. Mas lembre-se que são referências não obrigatórias. Outras coisas e situações mais interessantes podem aparecer que não estavam indicadas. E você não vai perder a oportunidade só porque quer seguir o roteiro...
- Deu vontade de ver, veja. Deu vontade de entrar, entre. Deu vontade de omer, coma;
- Interaja, pergunte, converse. Se sentir alheio não significa encarnar totalmente o outsider e ficar isolado;
- Não é proibido ter commpanhia nesta aventura urbana. Mas ela só vai ser proveitosa se o acompanhante também estar na mesma disposição. E se estiver pode te garantir percepções diferentes sobre o passeio;
- Idosos, comerciantes e moradores são os melhores orientadores sobre o local e podem proporcionar papos interessantes sobre coisas que aconteceram ou existiram no lugar com detalhes;
- A diversão está principalmente nos detalhes banais e não em monumentos oficiais;
- Não se incomode com seu deslumbramento se ele acontecer. Pare e olhe mesmo que isso dê bandeira ou seja uma completa bobagem. Lembre-se que a curiosidade deve estar agindo em seus níveis máximos;
- Padaria, padaria, padaria! Sempre localize uma. Você vai precisar comer, beber e ir ao banheiro;
- Paradas ocasionais são obrigatórias para tomar fôlego e retomar a energia. Novamente, a padaria é um ótimo local...
- Parques se existirem são oasis para o turista urbano;
- Restaurantes, bares e lanchonetes também são bem vindos mas vão te tomar tempo...
- Museus, igrejas, centros culturais são locais a visitar. Mas você não quer só cair no clichê, não é?
 
Sendo um turista urbano experiente e ativo, não estranhe se um dia aquele lugar que você julgava tão familiar de repente se torne diferente ao seu olhar e te proporcione novos bons momentos...

segunda-feira, 4 de março de 2013

Dolce fare niente: Sesc Pompeia




Exposição: Sesc Pompeia: 30 anos
Período: De 28 de Fevereiro a 30 de Junho, das 10h às 20h.
Local: Sesc Pompeia – Hall do teatro
Endereço: Rua Clélia, 93, São Paulo
Entrada: Gratuita


Algumas pessoas dizem: se é para fazer nada, melhor em casa. Muito legítimo e aprazível na maioria das vezes, se não fosse deprimente nos casos extremos em que não se tem dinheiro para o lazer. Há lugares que favorecem aqueles que se sentem bem sozinhos mas que gostam de estar e ver o mundo fora das fronteiras do seu habitat natural. O Sesc Pompeia é um deste lugares.
Se você tem a carteirinha de comerciário pode gozar de mais benesses para frequentá-lo com esporte, cursos e entretenimento a bom preço. Se não tem também pode encontrar bem o que fazer e o que não fazer. O não fazer pode ser bem básico: as cadeiras de madeira com laguinho e lareira próximos são convidativos para leitores e meditabundos de plantão. A biblioteca não circulante próxima pode fornecer a ferramenta de leitura para quem desejar.
O passeante desprevenido pode ter a sorte ainda de pegar algum evento gratuito acontecendo por lá. Frequentemente tem exposições interessantes. A última conta a história do próprio Sesc Pompéia por conta dos 30 anos de sua existência. Era uma fábrica no estilo arquitetônico das fábricas inglesas, depois tomada com atividades culturais promovidas pelo Sesi, e que por fim foi replanejada no fim dos anos 70 por Lina Bo Bardi. A arquiteta idealizou o layout atual intencionando o convívio dos frequentadores sem a imposição ou interferência do aparelho cultural ou das atividades que lá acontecem pelo seu calendário. A grosso modo seria dizer que quem vai ao Sesc para seu usufruto próprio pode ignorar o que lá se passa.Para saber mais e sem a preguiça descritiva desta que vos fala, só indo lá por sua própria conta e risco.
Risco porque o Sesc está em local de enchente. E para os motorizados, de ficar preso no trânsito caótico que piorou com o Shopping Bourbon. E que provavelmente ficará mais caótico com a reinauguração do Chiqueirão. Taí talvez um pouso tranquilo até encontrar a maré de tranquilidade para a volta para casa...

Para saber mais: http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=239672